quinta-feira, 4 de abril de 2013

Compostagem no solo- O que fazemos...

Com relação à compostagem como instrumento para a Educação Ambiental, acredito que a melhor forma de introduzi-la na escola é através da continuidade e expansividade das ações. Através da utilização da composteira, obtivemos resultados favoráveis, mas com certa inconsistência nas atividades... O que almejamos não é apenas um projeto que venha servir de simples amostra de possibilidades, mas sim, algo concreto e definitivo dentro dessas possibilidades.
A compostagem ao solo nos dá essa flexibilidade, uma vez que pode ser produzida de forma ininterrupta... Isso significa que as atividades se tornam um hábito dentro da comunidade escolar. Nesse sentido, várias precauções são tomadas, uma vez que a matéria orgânica acaba por estar mais exposta ao ambiente, o que favorece riscos se não seguidos os cuidados devidos.
Uma das precauções com a qual devemos nos atentar é para a cobertura do composto, nesse caso, utilizo o TNT- tecido não tecido- como proteção contra a proliferação de moscas. O processo de transformação da matéria orgânica ocorrida no solo é bem semelhante ao processo ocorrido no tambor, não oferece riso quando manuseado de forma correta e prudente. 
No solo, naturalmente, ocorrem todos os processos de decomposição de folhas, galhos, resíduos da alimentação animal, resíduos da própria decomposição de animais mortos, frutos, flores, e tantos outros. Insetos colonizam a matéria orgânica em decomposição, se alimentam e se tornam alimento de outros seres, microrganismos também colonizam a matéria orgânica e todo um ciclo vai se completando. A foto abaixo mostra o solo de onde foi retirada uma remessa de composto já curado, a coloração escura se dá devido a deposição de matéria orgânica decomposta, introduzida no solo através da penetração das águas das chuvas por intermédio de pequenos orifícios cavados por minhocas, formigas, e demais decompositores. As imagens registradas aqui são de hoje, 04 de Abril de 2013, na escola onde o projeto está se desenvolvendo.
É importante que, pensada a possibilidade de produção do composto em solo, este deve ser preparado em área de pouca incidência solar. Geralmente à sombra de árvores e em local o mais distante possível do corpo do prédio escolar. Nossa compostagem está localizada nos fundo do terreno, sob arborização e de face para o muro de divisa. Nesse local, a matéria orgânica resultante das ações temporais sobre a vegetação é frequente, folhas, galhos, frutos e demais resíduos naturais são coletados e não mais vão para o "lixo". O solo que antes era arenoso agora apresenta sinais de  recuperação, o que permite a visualização de contrastes de solos no nosso cantinho ecológico.
Nos locais onde a matéria orgânica está presente, o solo apresenta coloração mais escura... sua consistência é menos arenosa e a umidade parece ser constante. Já nos locai onde a matéria orgânica é retirada constantemente por motivo de "Limpeza", o solo é mais arenoso, em nosso caso, com uma coloração esbranquiçada e com alto grau de compactação. Nesse caso, dizemos que nosso solo está morrendo, as sementes que conseguem germinar geram pragas com a braquiária e outras plantas miúdas, raquíticas e nada uniforme, o que exige a capinação do terreno para não haver proliferação de vetores e peçonhentos, com aranhas, baratas, escorpiões e outros mais...
Uma vez escolhido o local para a preparação do composto, fazemos a limpeza do local e demarcamos o tamanho da leira ou monte. No nosso caso, a produção de sobras ainda não foi calculada, variando entre 15 e 25 litros de resíduos vindo da cozinha... A periodicidade também não é constante, sendo que em algum momento o resíduo toma outro destino. Na área do composto, demarcamos um retângulo no solo de, aproximadamente, 1.8 m por 0,7 m. Isso é o suficiente para receber a quantidade de resíduo produzido durante uma semana, sendo que, à cada dia, elevamos uma camada do composto.  
Demarcada a área, fazemos uma cobertura de material seco dentro do espaço demarcado. Essa forração pode ter a altura de 0,5 à 10 cm... No nosso caso, não utilizamos umedecer as folhas, visto que o solo já está úmido devido à existência de matéria orgânica de um processo anterior, também pelo fato de que os resíduos verdes que serão sobrepostos são ricos em água. Geralmente, as folhas secas acumuladas ao solo carregam um bom teor de umidade, o que para nós tem sido suficiente. Umidade e aeração controladas permitem um melhor andamento do processo, o que mostraremos mais à frente.
Notem que, junto com as folhas, pequenos galhos também são adicionados. Em processos descritos na literatura, a redução dos materiais é aconselhável à minímas partes possíveis. Já em nossas atividades, temos boa eficácia do processo com os materiais em suas proporções naturais... Tantos as folhas secas como as sobras que vêm da cozinha são compostadas sem a sua redução. Materiais maiores oferecem melhores condições de aeração, galhos e outros volumes acabam por provocar a existência de "Gaiolas", o que acarretam em formação de bolsões de ar.
Sobre a matéria orgânica seca, as sobras verdes são depositadas. Na refeição de hoje havia repolho, pepino, tomates, cenouras e bananas. As sobras da preparação, cascas, folhas, talos, o próprio pó de café e folhas do chá foram adicionadas à compostagem, deixando de ser direcionados para o "lixo. Esse material tido como "lixo" ganha uma bela e nobre função, será "desmontado" e se transformará em nutrientes para novas montagens. Nos aterros e lixões da Terra, seriam apenas poluentes, sem função alguma para o meio ambiente.
Com a ajuda de um rastelo, o material verde é espalhado sobre o material seco. Notem que a lateral   próxima ao muro não é preenchida. Isso é necessário para que exista um envolvimento total da matéria verde por material seco. Assim, a odorização é eliminada. Também é possível perceber que, a camada verde ocupa um lugar central e em altura mínima- cerca de 2 à 3 cm- A proporção de material seco é de 3 X 1 em relação ao material verde, assim sendo, sem considerar a camada seca que cobre o solo, a adição de material seco sobre a camada verde será de aproximadamente 8 cm.
Para que exista a decomposição, é necessária a presença de oxigênio, de alimento, de umidade e de "insetos e microrganismos". Em um processo inicial, pode-se adicionar uma fina camada de esterco de boi ou galinhas, se não for possível, uma camada de solo fértil tem o mesmo efeito, geralmente encontrado em áreas de arborização onde as folhas não são coletadas do solo, nesses locais, retirando a cobertura de folhas, o solo negro resultante é rico em microrganismos e insetos. No nosso caso, as sobras do composto que resultam da leira retirada já serve como inoculador, sendo que utilizamos o esterco apenas para fomentar a elevação da temperatura.
A cobertura com esterco também deve ser uniforme sobre a matéria verde. Na sabedoria popular, o esterco bovino é utilizado pela sua grande concentração de ureia, o que é essencial ao desenvolvimento das plantas, na nossa atividade nós não levamos muito em conta essa propriedade, até porque não sabemos se essa ureia estará disponível para as plantas no final do processo- Fato que ainda preciso pesquisar- seu uso é meramente de enriquecimento e de potencialização da temperatura.
Quanto mais variada for a quantidade e qualidade dos resíduos adicionados, mais rico será o adubo.   Folhas secas, pequenos galhos, cascas de frutas, de legumes, de raízes, cascas de ovos, pó de café, folhas de chás, flores, serragem- madeiras não tratadas- e até papeis velhos e inservíveis à reciclagem podem ser adicionados- desde que não contenham tinta e que seja em pequenas quantidades. Todo material orgânico não manipulado artificialmente pode ser adicionado à compostagem, só não aconselhamos o uso de carnes e derivados de laticínios, peixes e ossos.
As folhas que caem das árvores, sobras de vegetação cortadas ou sobras de capinação, cascas de troncos penas de pássaros, todo o material orgânico seco que resulta da atividade "natural" do meio tem serventia para a compostagem. Em áreas em que esse material era rasteado, varrido e destinado à coleta, a sua separação está sendo realizada para posterior utilização na compostagem. Uma dica é a sua coleta e armazenamento em sacos- Preto tipo plástico de lixo- em local coberto. Isso facilita a disposição de material seco em épocas de escassez, com a vantagem de economizar na aquisição de sacos, uma vez que estes podem ser reutilizados várias vezes. Outra possibilidade é o armazenamento em leiras, devidamente coberta com TNT. Noa foto, a quantidade de folhas nos solo foi suficiente para a cobertura de nossa camada inicial.
 
A vegetação rasteira, arrancada pelo rastelo, também é adicionada às folhas secas, em nosso caso, existem duas áreas que necessitam de capinação. Para promover a integridade do solo, a vegetação será aparada com uma tesoura de jardinagem, o material resultante será ensacado e armazenado para a posterior utilização, tanto no processo de compostagem quanto nos canteiros da horta.
Uma vez terminada a disposição da camada verde e do inoculante- esterco- a matéria seca é adicionada de forma que cubra toda a área demarcada. Em alguns casos, antes da cobertura final, pode-se adicionar água ao composto. No processo que realizamos, não adicionamos por acreditar que só a evaporação do solo e a água contida na matéria verde já nos proporciona um bom teor de umidade. Em épocas de seca e calor, nessa proporção assistida nas imagens, seria possível adicionar uma pequena quantidade, sendo que, de 0,5 à 1 L de água aspergida sobre toda a matéria verde, apenas. Terminada a cobertura com a matéria seca, cobrimos o monte com o TNT em toda a sua extensão, isolando-o. O TNT permite a passagem de oxigênio e água das chuvas para o interior da compostagem, assim como também permite a evaporação resultante do processo de aquecimento produzido pela ação dos microrganismos. o isolamento serve como prevenção à proliferação de moscas.
No dia seguinte, a cobertura de TNT é retirada para a adição de nova camada de material verde, que é colocada diretamente sobre a cobertura seca existente. Pode-se adicionar nova camada de inoculador- esterco- e a nova cobertura seca, na proporção de 3 volumes secos para cada 1 adicionado. Esse processo ocorre diariamente por período de uma ou duas semanas- Até alcançarmos a altura de 1 metro na leira- momento em que uma nova leira é começada.
O processo de transformação do resíduo orgânico em adubo é dependente das condições acima e da condição climática. Em nossa região- Quente por natureza- o processo pode durar por até 90 dias. em nossas atividades, temo conseguido bons resultados no período de 60 à 70 dias. A imagem abaixo mostra o resultado da primeira remessa compostada no início de 2013. O inoculante utilizado foi sobras de composto do ano anterior, o que resultou em sobras de pequenos galhos e talos de folhas secas. 
Nesse processo, não utilizamos terra, as matérias verdes e secas resultam em uma matéria fina como a terra negra,
Nesse caso, não é possível forma "bolas" com o composto pela ausência de solo, mas a sua liga é suficiente para, ao espremê-la nas mãos, moldar pequenas pelotas compactadas. No solo, essa matéria orgânica age como um aglomerador de partículas, o que torna o solo com maior quantidade de dutos para armazenamento de água e oxigênio, que são absorvidos pelas raízes.
Esse é o resultado visível da utilização correta do nosso "lixo". Não polui, não gera gazes e não contamina... associado à horta, gera alimento de qualidade, sem agrotóxicos e sem fertilizantes químicos industrializados... O que é lixo para muitas pessoas, passa a ser instrumento de Educação, de recuperação ambiental, de trabalho e alimentação saudável...O "Lixo" só existe se nós quisermos, se continuarmos à aceitar uma ideia que foi introduzida em nossos ancestrais, há alguns milhares de anos, ideia da qual pouco modificamos...
Vamos mudar nossa forma de interação com a Terra, se não por nós, já cegos pela ignorância, pelos nossos jovens, pelas nossas crianças, pela nossa Terra...
Paz e luz à todos.



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