quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Repensando as pragas.

Bem alheia ao leigo, a natureza trabalha a existência de vida. Busca integrar a cidade à sua naturalidade, introduzindo espécies e modicando a paisagem. O leigo, como ainda sou em matéria de ciência da vida, acredita que as paisagens podem ser controladas em sua beleza artificial, e assim denomina algumas espécies como "pragas".
Qualquer ataque ocorrido dentro de uma área modificada artificialmente é consequência da seleção humana das espécies que "devem" fazer parte da paisagem pensada.
As "pragas", como gostamos de intitular, são invasões de espécies que encontram condições de desenvolvimento em determinada área e sem um controle natural. Comuns na agricultura  convencional pela  monocultura, nas águas pelo excesso de matéria orgânica carreada, nas cidades na forma de zoonoses, viroses e outros mais. 
Mas ser leigo não significa que não se possa aprender, que não se possa compreender como a vida reage às mudanças da sua estrutura básica. Assim, se há determinado alimento em quantidade excedente, há uma espécie predadora que se excede à estrutura natural, se determinado alimento finda, há de findar a "praga".
Trabalhar a horta aliada à compostagem me permitiu observar a mudança da biodiversidade da área. Assim como a compostagem permite o enriquecimento da biodiversidade do solo, a existência da lagarta permitiu o surgimento da vespa, que trouxeram pássaros, que trouxeram sementes e insetos, que trouxeram bactérias e que se alimentaram dos nutrientes do solo, dos insetos, dos excrementos de pássaros, das verduras e das lagartas, inicia-se um controle da área e a formação de um micro ecossistema que se controla.
Fantásticas são as mudanças que podem ocorrer em poucos meses, "pragas" que atacaram a nossa horta, são controladas por "pragas" que atacam as "pragas". Assim as "pragas" trouxeram vida e multiplicaram a diversidade animal, vegetal e microscópica.
Não há área que possa ser controlada ecologicamente dentro dos parâmetros de beleza da vontade humana. A beleza de qualquer ecossistema está, justamente, na diversidade de vida que este apresenta, na sua estrutura funcional e evolutiva, onde todos os seres da Terra são funcionários da reconstrução do equilíbrio ecológico. Qualquer ocorrência que desestabilize tal ecossistema é repensada e reorganizada a partir da mobilização dos funcionários da criação, muda-se a paisagem, mas mantém-se a essência funcional.
As paisagens não são constantes, são transitórias às ocorrências do tempo, da vida e dos intemperes, das interações, mas são funcionais. Talvez seja o homem, a principal "praga" dos elementos da Terra, aquele que não é predado à não ser pela própria ignorância.









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