sexta-feira, 29 de junho de 2012

Problemas urbanos- interligação.

Se por um lado, a fome e a miséria é um problema social grave e precisa ser combatido, o lixo é um problema ambiental de igual importância, o consumo excessivo e a grande quantidade de lixo gerado é um reflexo do poder de consumo das populações mais desenvolvidas e que, como consequência, gera escassez que eleva preços e priva uma parcela da população do direito ao básico para o seu sustento. As regras do consumo é desproporcional ao principio básico de um ambiente controlado, onde não há sobras e não há desperdício.
 Como ambiente natural e adaptado às necessidades humanas, as cidades exercem forte apelo a aquisição, desequilibrando os meios provedores do seu consumo e esse desequilíbrio é refletido diretamente em sua população, através da escassez.  Estar escasso aparenta não ser um problema, reduz-se o número de pessoas passivas de acesso através das leis de mercado, gera-se então, a privação e a exclusão.
Enquanto industria da propaganda oferece prazeres superficiais para uma parcela de indivíduos portadora de direitos à aquisição, as necessidades de muitos outros indivíduos é negligenciada, negligência que gera inconformismo e que gera revolta. É fato que um indivíduo é fruto da educação que recebe, suas ações são frutos daquilo que aprende, daquilo que vivencia. Sabe-se que investimentos em saneamento gera saúde, saúde gera trabalho, trabalho gera alimentação, alimentação gera educação e a educação gera indivíduos capazes de criar mecanismos de mobilização, inclusão e evolução, de promoção de igualdades e solidariedade, mas faz-se investimentos iguais, ou superiores, nos mecanismos de desvinculação do individuo da sua essência natural,  da humanização. Quando falamos em desvinculação, falamos da não compreensão pelo indivíduo, do poder de promover a sua autonomia frente as suas necessidades, de prover a autonomia do meio em que está inserido, de cada indivíduo e de cada população, a autonomia de um mecanismo maior de provisão da vida. Somos todos indivíduos capazes, dotados de um espirito que habita todos os seres vivos, capazes de promover equilíbrio e sustentabilidade. Somos mais que meros consumidores de sonhos vazios, de possibilidades irreais e inalcançáveis, somos mais que indivíduos fúteis e isolados. Somos parte de uma força maior, integra e pura, que promove um sustento mútuo e inacabável, que renasce em cada ciclo temporal. Temos a oportunidade de viver da partilha, onde todos os seres se completam, e o que mais podemos querer da vida, senão aquilo que a vida nos teima em nos dar?







quarta-feira, 27 de junho de 2012

Conscientização- desperdício.

Enquanto discutimos problemas ambientais, milhares de pessoas sofrem com a falta de alimento, com a escassez de recursos como a água e solos desertificados e a escassez de alimentos. A degradação da pessoa humana talvez seja a pior forma de degradação ambiental causada pelo homem, sendo que está intimamente ligada a apropriação e exploração dos recursos naturais e da biodiversidade.
Sendo parte do conjunto Terra, o homem é responsável pela eliminação de diversas espécies, é o principal consumidor dos recursos naturais e único ser capaz de intervir no processo de destruição da vida na Terra.
Só para exemplificar, jogamos fora cerca de 52% de lixo proveniente da alimentação, enquanto milhões de pessoas não têm um mínimo necessário de alimentos para comer, desperdiçamos alimentos em forma de lixo, em áreas que poderiam ser produtivas, apenas pelas aparências de verduras, frutas e legumes, ou pelo descaso, pela aquisição desnecessária daquilo que não chegaremos a consumir.Sendo um dos maiores produtores de alimentos, o Brasil desperdiça cerca de 23 milhões de toneladas de alimentos todos os anos, alimentos que poderia alimentar milhares de pessoas, que culminariam na redução do primeiro dos ODM's Objetivos do Milênio, e assim por consequência, o segundo, o quarto, quinto o sétimo e através das oportunidades, o oitavo. Isso porque, as 23 milhões de toneladas de alimentos desperdiçados, agregados os demais resíduos orgânicos destinados ao lixo poderiam, no caso do descarte continuar, deixar de poluir os solos, as águas e o ar, gerando emprego e renda nos processos de transformação da matéria em adubo, através da implantação de áreas de cultivo, da produção de alimentos. É lamentável que ainda não tenhamos a consciência de que a aparência dos alimentos não importa, mas sim o seu valor nutritivo, que aquilo que compramos em excesso irá apodrecer sem beneficiar ninguém, que nossas sobras faltam em várias partes do planeta, do Próprio Brasil, que em nossa cidade, as vezes, em nossa rua, alguém não tem acesso a essa sobra.
Assim deixamos que as possibilidades se esgotem, que seja degradada a vida de pessoas por puro prazer da beleza, que seja degradada a vida e em toda a sua essência por descaso, por mero capricho.
Não posso referenciar as possibilidades de produção alimentícia, quanto a quantidade de resíduos gerados, mas posso dizer que é possível reverter seu destino, é viável e traz resultados, que a sua utilização na produção de alimentos é segura e corresponde as expectativas de redução da pobreza, que diminui efeitos da degradação, ajuda na captação de carbono atmosférico, reduz o efeito estufa e o aquecimento global, ajuda na recuperação das águas, na manutenção da flora, da fauna, na preservação do solos utilizáveis para a agricultura, para a moradia e muitos outros aspectos quando trabalhada com seriedade, com vontade, com   responsabilidade.
Hoje retirei a segunda pilha de composto, com 48 litros de resíduo da preparação de alimentos e 164 litros de palhas e folhas secas, o que resultou em 126 litros de composto semi pronto, onde o mesmo foi disposto sobre o solo e coberto por folhas secas e palhas.
Parece insignificante, mas lembro que a adubação é mínima desde o início dos trabalhos, a produção de composto ainda é reduzida, mas já colhemos rúculas, alface, almeirão, pepinos, vagens e hoje, quiabos, milho e salsa. Posso também exemplificar o desperdício, sendo que o milho e os quiabos sofreram com escassez de nutrientes do solo, e se fosse pela aparência, não seriam comercializados, agregando volume ao lixo. Mas o que me vale é que seu valor nutricional é de qualidade, sem adição de produtos de qualquer espécie, e que algumas crianças poderão se alimentar no dia de amanhã.
Hoje sei que a aparência não é tudo, pois vi que, aqueles pezinhos de milho raquíticos que seriam incorporados ao solo pela aparência feia, rendeu espigas mínimas, com grãos ricos e sem falhas. É a beleza da vida, o milagre da criação natural.








terça-feira, 26 de junho de 2012

Conscientização para o conhecimento.

Uma das características da educação ambiental é a conscientização quanto a possibilidade de se conciliar desenvolvimento com preservação ambiental. Não é por acaso que a reciclagem é um dos principais caminhos para a conscientização das populações, embora seja uma cadeia ilustrativa-cerca de 98 % do que pode ser reciclado ainda é perdido- a possibilidade de demonstração prática abre caminhos para outras abordagens, não tanto exploradas.
A quantidade de lixo gerado pelas populações é equivalente a quantidade de recursos naturais consumidos, a cada ciclo de disposição, há um ciclo de consumo, um ciclo de produção e um ciclo de exploração. O maior problema está no modo como a extração acontece, os recursos naturais são gratuitos, a terra nos dá sem custos, provém a sua aquisição. Sendo que os recursos naturais são gratuitos, bem comum da humanidade e de todos os seres vivos, qual é a nossa percepção quanto ao processo de economia ao qual estamos inseridos?
Uma das análises que muito uso, na atribuição das minhas atividades é a da justaposição do homem no contexto ecológico, ou seja, somos consumidores daquilo que a terra nos dá, por qual motivo não retribuímos com as necessidades de reposição da terra? Se retiro da Terra meu sustento, como posso deixar que ela se degrade, sendo que, no caso da alimentação, posso produzi-la em meu quintal, a custo quase zero?
Quando analisada desta forma, a produção de bens é menos rentável que a produção de conhecimento, temos tecnologia e infraestrutura para alimentar a Terra e para favorecer a reconstituição da natureza. A cadeia produtiva do plástico, do papel, da borracha, dos minérios e de todas as cadeias sintéticas é pouco explorada devido à falta de conhecimento, a falta de vontade, o excesso de gana. Temos uma riqueza natural capaz de revolucionar a economia, de modificar a forma como atuamos no meio. Tecnologias de biocombustíveis, terras produtivas, ciclos pluviométricos favoráveis, biomas diversificados, grandes áreas oceânicas, clima propenso, um povo pacífico e solidário. O que nos falta é o conhecimento, a vontade de produzir e de inovar.
A conscientização é um ato educacional, sustentada pelo reconhecimento do homem como ser ecológico, capaz de usufruir dos recursos naturais de forma a propiciar a sua manutenção. Capaz de prover um equilíbrio sustentável, capaz de produzir e de disponibilizar riquezas sem destruir as principais riquezas existentes, capaz de compartilhar e propiciar melhores condições de vida para todos os seres vivos, é formar consciência e coerência, é formar pessoas humanas.
Tenho ouvido falar muito em economia verde, cujo sentido remete à um padrão econômico voltado à sustentabilidade ambiental, econômica e social. Não sei se sou capaz de compreender o assunto, a temática envolvida, mas enquanto tivermos uma economia voltada para a captação de recursos financeiros, a sustentabilidade ambiental e ecológica será uma teoria, pessoas estarão famintas, recursos naturais escassos e mercados em crise. Somos capazes de movimentar recursos financeiros à base do conhecimento, do investimento em tecnologias que promovam a não destruição do homem e do seu habitat, de produzir segurança, saúde, educação e alimentação, de favorecer a regeneração da biosfera, é só deixarmos de "explorar", a terra, os recursos naturais, os seres vivos, a economia. É simplesmente querer "trabalhar" o conhecimento, o exercício da criação, afinal, não foi assim que se fizeram as maravilhas da Terra, através da criação? 








segunda-feira, 25 de junho de 2012

Da funcionalidade- possibilidades e aprendizados.

Dentro da participação da escola, da formação do conjunto funcional para o exercício da conscientização, todos os aspectos possíveis são pensados, a união dos atores acontece em conjunto com as necessidades e com as possibilidades de aprendizagem.
Cada realidade é diferenciada em função da localidade, da estrutura, das possibilidades e da funcionalidade da proposta. Aprende-se com atividades já realizadas e com possibilidades que surgem durante a construção da base fundamental.
A compostagem, como trabalhamos, é um processo de decomposição aeróbia, ou seja, os microrganismos necessitam de aeração, umidade e temperatura adequada para se reproduzirem, para decompor a matéria orgânica disposta no solo. Por ser uma área residencial, com solo pobre e biodiversidade nula, há a preocupação com o desenvolvimento de vetores como o mosquito palha, transmissor da leishmaniose e o aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela. Assim sendo, uma forma de conscientizar é a cobertura da leira de compostagem com TNT-tecido não tecido- a qual não permite a postura de ovos do mosquito palha, sendo que o mesmo se desenvolve em locais úmidos e com matéria orgânica em decomposição. A cobertura de TNT permite a entrada de ar-aeração da leira, permite a passagem de umidade para o interior das camadas e facilita a elevação da temperatura interna do composto. Outra medida a ser tomada, em comum acordo com o professor marcos e com o representante do grêmio, presente nas atividades de hoje é a da realização de um mutirão para a limpeza da área, retirada de embalagens plásticas e outros materiais passivos de criadouros, assim como a realização de eventos para a conscientização quanto a manutenção da limpeza da área onde está sendo formada a horta.
Quanto à estrutura, a direção busca caminhos para agregar funcionalidade a parte física, os alunos repensam, junto com outros professores, os espaços a serem modificados e o professor Marcos agrega conhecimentos aos trabalhos, como a  construção dos degraus para o plantio do feijão, conhecimento este que ainda não tive a oportunidade de pesquisar, e prefiro não, com propósito de relembrar os meus tempos de escola e colher do mestre, a base do conhecimento. Posso apenas dizer que já me sinto empolgado pela aula, pois conheço um pouco da teoria de conservação, da prevenção do carreamento de partículas e do controle da erosão.
E assim estamos montando, tijolos por tijolos, a estrutura funcional da segunda área, já presenciamos mudanças positivas, já presenciamos o surgimento de vida, em cogumelos e minhocas, insetos e fungos, assim também, já fomos surpreendidos por falhas, as quais estamos buscando corrigir. Mas como eu disse e  eu acredito, a atividade de conscientização é uma atividade que se monta, se ensina e se aprende, se discute, se critica, une forças, sonhos e vontades, se realiza, tijolo a tijolo, vontade a vontade, sonho a sonho. Isso é gratificante, é social, é ecológico, é natural.  










Da instituição conscientizadora- escola.

Uma das coisas que aprendi trabalhando a compostagem junto à autarquia municipal é que a Conscientização Ambiental é uma atividade de introdução de conceitos e que não se faz em ações isoladas.
A Educação ou, Conscientização Ambiental é uma atividade continuada, tramada ponto a ponto, montada tijolo à tijolo. Não se faz educação ambiental sozinho e não se faz de forma instantânea, cada passo dado é um pedaço de uma pequena conquista. Hoje posso me utilizar das atividades iniciais pelo reconhecimento da minha participação, a qual não foi isolada e nem mais ou menos expressiva que as demais, as mesmas que fizeram parte deste início de atividade.
Mesmo que hoje, não exista apoio no que tange a continuidade dos processos iniciais como pensados e estabelecidos pelo estudo da causa em 2010, as atividades realizadas agora e de forma anônima, são baseadas nas atividades executadas anteriormente e uma das conclusões a que cheguei e que se mostra real é a da participação da escola, do envolvimento de todos os agentes na perspectiva de mudanças.
A escola é uma instituição formada de agentes incumbidos de um único ideal, o da formação de cidadãos, tanto na esfera intelectual quanto nas esferas produtivas, participativas, éticas, solidárias, críticas e cidadãs, Assim acredito ser a educação. Cada agente incluso no ambiente escolar assume um papel, como uma sociedade cooperada para a formação de cidadãos, ou seja, cada um tem uma função específica dentro do contesto do ensinar e os objetivos alcançados são méritos de todos, em igual proporção. Há sim, um sistema hierárquico, mas as competências e responsabilidades se somam, se complementam, como parte de um todo e em total harmonia, é um conjunto e tem que ser funcional por completo.
Desde a separação do material para a preparação do composto, realizado nas atividades da cozinha e de forma correta, a coleta de folhas nos pátios, a apara das gramas e sua destinação para a compostagem, a união dos professores, na introdução de ferramentas contidas em suas licenciaturas, a adaptação de currículos e atividades pela coordenação, a delegação de poderes e de responsabilidades por parte da direção, a participação de alunos, pais e demais agentes no processo são fatores que contribuem para o sucesso das atividades. Não há processos isolados, mas uma conjunção de processos que proporcionam caminhos e longevidade, continuidade e aprimoramento dos trabalhos.
Essa é a ideia que iniciará as atividades, e como todo início, cada tijolo agregado é uma conquista, e cada  conquista conjunta é apaixonante, assim fazemos brotar idéias e realidades, gerando compreensão, participação, fomentando o diálogo, a interatividade, a descoberta possibilidades e de competências, fomentamos a socialização, a preocupação com espaço escolar, fomentamos novos olhares, novas atitudes e novos pensares.     






sábado, 23 de junho de 2012

Sociedade humana.

De um jeito ou de outro, a socialização não é uma invenção do ser humano, a forma como ela acontece perante à população humana e é instituída sim, são atos da nossa vontade, caracterizada pela força da persuasão. Mesmo que tenhamos nossas ideologias prontas, nossas condutas estabelecidas pelas correntes que formaram as nossas verdades, somos tão naturais em nossos sentidos quanto as demais populações da biosfera terrestre.
Como maquiamos a nossa personalidade, na busca de uma superioridade absoluta, acabamos por esquecer de funções vitais de uma sociedade. Aprendemos a dominar, a nos impor e impor as nossas realidades, realçando a sensação de poder e de felicidade. Assim esquecemos da amizade, do companheirismo, da naturalidade dos sentimentos, os quais instituíram padrões de comportamentos destrutivos, de concorrência e concordância com as limitações que nos impõem.  
Somos uma sociedade de produção, acreditamos e discutimos nos cacarejar dos debates, na nossa hierarquia social. Passamos a vida a ver quem botará os ovos maiores e mais suculentos, recebemos aquilo que acreditam ser suficiente ao nosso sustento, deixando as alas mais baixas do galinheiro para alas classificadas, mas ainda em galinheiros, quanto mais produzimos, mais podermos consumir e  maior será a nossa probabilidade produtiva. Assim a ração social nos é servida e nos remete a mais cacarejares e a mais botar de ovos, indiferentes ao rejeito que produzimos, aos pés da nossa produtividade, mas cujos os odores repercutem, de toda forma, em nós. Essa é uma lamentável comparação que ouvi, e da qual não posso deixar de concordar. Nossa sociedade é sim, aprisionadora e consumidora dos nossos esforços, assim aprendemos que temos de impor nosso cacarejar para obter alguma vantagem, vantagem que nos assegura conforto e que produz exclusão. Não há ração para toda a sociedade, classificamos indivíduos pela sua capacidade de produção, a produção que alimenta os nossos interesses.    
 Assim aguardamos a nossa introdução nos patamares mais altos da sociedade, espreitando que os pilares de sustentação econômica, em seus balances de demanda, derrubem indivíduos desqualificados, despreparados ou simplesmente fracos, que possamos estar presentes nestes pilares e alçar voos, imaginando um céu de oportunidades. Mas não compreendemos, ou não enxergamos aqueles que alçaram voos, o quanto nos limitam, assim como não enxergamos aqueles ficaram ao chão, tão limitados pelo nosso direito de ascensão. Há uma tendência natural de que os voos sejam interrompidos, que desequilíbrios nos pilares da sociedades nos façam descer, assim como corretes de ar nos façam subir. Há um rodízio de oportunidades existentes, há uma manutenção natural dos ciclos de poderes, os quais não aceitamos e forçamos não compreender. Espreitamos melhoras que nos favoreçam, abrimos as asas e demarcamos nosso espaço, forçamos a manutenção da exclusão.
 E um dia percebemos que nossos voos não nos tiraram do chão, ao contrário, estabelecemos nossos portos seguros na ciência de que fizemos tudo errado, no comodismo da espera. Lamentamos amigos que se foram, sonhos não concretizados e a falta da vida, vivida de correrias e de conquistas vagas. Muitas vezes temos a oportunidade de ter compartilhado bons momentos, podendo lamentar serenamente daquilo que nos sobra, naquilo que nos enriquece. Somos todos seres compostos de corpos, compostos de moléculas e transformados, de embrião a anciãos, somos todos dotados de alguma magia interior, da qual realça a vida e a divindade. Não aprendendo a reconhecer essa magia, limitamos a nossa percepção quanto as vidas que destruímos, quanto às apropriações de vidas que nossa conduta produz. Somos limitados sim, mas somos limitadores de nós mesmos quando nos permitimos ser limitados, quando limitamos para revogar a nossa limitação.  
 E assim acabamos limitando toda uma sociedade, todo um fluxo funcional de vida, todo um sistema mágico e complexo. A socialização humana não pode mais deixar que seus filhotes sejam abandonados perante as possibilidades econômicas. Instituir o conceito de um mínimo necessário à população significa instituir uma base digna, que priorize a família em sua justa constituição, que priorize a participação da sociedade na reestruturação da própria sociedade, que priorize a educação para um conjunto participativo, que agregue conquistas conjuntas, que priorize a valorização de todo um modelo que não passa de um ser único, dotado de parcelas vivas que o mantém e que provem a sua existência.
Prover o mínimo necessário significa, instituir políticas públicas de acompanhamento de crianças e jovens, filhos de pais "produtivos", garantir que não exista a aliciação destes para os descaminhos e que estes possam ver o mundo com os olhos que deixamos ser vendados. Significa abolir a "justa competição" na garantia dos Direitos essenciais, significa permitir que exista inclusão e ética na distribuição dos recursos necessários à justa sobrevivência de cada indivíduo, garantir que nossos filhos não necessitem optar por condutas que lhe permitam expressar a sua liberdade e a sua indignação de formas tão abusivas. Nossas crianças e adolescentes são meros resultados das nossas conquistas, são frutos do espelhamento de condutas abusivas, de apropriação e de exclusão, de nossa seleção de valores. Mais ainda, nossos filhos são influenciados pelo mundo que construímos, têm vidas próprias e são dotadas do mesmo senso de escolha a qual atribuímos nossas prioridades e os meios para como conquistá-las, mas nem sempre se espelham em nós, tendo suas afinidades atribuídas ao conjunto social em que se inserem. 
Uma das causas deste "post" foi um debate sobre a diminuição da idade penal, a qual pretende-se aferir ao jovem maior de 16 anos, o dever de pagar pelos crimes que comete. Justo seria, se houvesse um sistema educacional menos voltado ao exercício da indiferença, um funcionalismo público menos voltado à omissão e um regime político mais voltado para o social. Reduzir a idade penal acarreta na aliciação de crianças para as atividades marginais, acarreta na destruição da infância e na desvalorização do ECA.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Os águas e a urbanização.

Para entender como as cidades se integram com o ambiente natural e como afetamos a estrutura do nosso meio sem nos preocupar com as consequências das nossas ações, fui visitar alguns pontos que pudessem representar a interligação e interdependência do ser humano com o meio e com os recursos naturais. escolhi a água, sua no meio disponibilidade e seu ciclo.
Todo ser vivo depende da água para viver, as paisagens são formadas através da ação do tempo, da ação dos fenômenos naturais, das reações ocorridas e da multiplicação da biodiversidade. 
 As margens de cursos d'água são preservados naturalmente, ventos, chuvas, decomposição de rochas, matéria orgânica formam um  solo propício para o surgimento da vegetação de proteção. 
Às margens do leito crescem árvores e arbustos, cujas suas raízes ajudam a proteger o solo contra a erosão.
 Nas épocas de chuvas, a vegetação se torna viva e colorida, os solos férteis se inundam de beleza.
 Formam-se áreas de alagados, escape natural do excesso de enxurrada e transbordo dos rios.
 Galhos secos e folhas mortas ajudam a beber a água da chuva, controlando também o transporte de partículas que cobririam o leito causando assoreamento.
 As minas brotam límpidas e escoam em caminhos como se fossem veias, escoando as áreas de alagados.
 Mas as águas de cá são as mesmas que passam por outros locais, às vezes não tão conservados, as vezes, não naturais.
 No meio natural não há poluição, líquens e musgos brotam dos troncos, colorem e aveludam a madeira ainda viva.
 As águas são cristalinas, escoam em leitos de pedra, cantando toadas em coro com pássaros e som das folhas ao vento.
 Mas é influenciado pelo homem. Até mostra que é possível se regenerar, renascer, florir...
 E o homem não percebe, constrói às suas margens ignorando a sua beleza e naturalidade.
 O que era natural acaba perdendo a pureza. Toda essa simplicidade está no final de um curso, pouco antes do desague em outro rio, o qual é tão triste quanto o meio do caminho, na zona urbana.
 As cidades são formadas, inicialmente, em terras férteis e às margens de cursos d'água. Com a urbanização, findam-se as zonas de escape e a proteção natural oferecida pela vegetação.
 As águas correm em canaletas retas, recebendo o descarte de águas que escoam em vias e vielas.
 Carreiam sacos, folhas, papeis, óleos, areia e outros produtos de descarte das atividades humanas.
 As águas turvas daqui são as mesmas de lá, percorrendo e lavando nossos dejetos e rejeitos, nosso descaso.
 Perto das nascentes, correm em solos de preservação, com vegetação a natural nativa ou recuperada. 
 Mas sofre as consequências da ação econômica, com fertilizantes e defensivos agrícolas. Logo em seu ínicio.
 Antes de chegar na área urbana, irriga hortas e recebe entulho e galhos, e continua o seu caminho.
 Entram nas cidades por tubulações, recebendo os despejos urbanos, muitas vezes, esgoto não tradados.
 Cá temos cem por cento de esgoto coletado, para o bem do córrego que corta o centro, em seu início, a proteção da barranca é baixa, terra e folhas são carregadas quando das chuvas mais pesadas. 
 As áreas de alagados são impermeabilizadas e as enxurradas são despejadas in natura no seu leito.
 Areia e lixo assoreiam o leito e a vegetação impede a entrada de luz, pequenos fios d'água sobrevivem.
 Mais a frente, resíduos das sarjetas se acumulam no fundo, a construção de degraus no leito, com pedra, ajuda a minimizar os impactos negativos, mas não minimizam os problemas. 
 Ao longo do percurso, as laterias de proteção são aumentadas, a coleta de água pluvial aumenta e periga as construções que margeiam o córrego.
Canaletas profundas e largas buscam recebem mais água, tentam conter a vazão natural que ocorrerá para as antigas áreas de alagado, hoje impermeabilizadas e ocupadas pelo homem. 
Nosso córrego deságua no limite, da cidade e da vida, para um meio mais natural, tentando se recuperar. 
Antes de desaguar, recebe as águas de um outro córrego, não canalizado, preservado em algumas áreas de escape.  
 Mas que também recebe resíduos das sarjetas em seu leito.
 Entulho e lixo forma jogados em seu leito no início da formação da vegetação de proteção.
 As áreas de preservação são mantidas, recuperadas e isoladas para proteger as barrancas. 
Mas a urbanização acontece antes da preservação, os solos são carreados para o leito, pouco se vê. 
 São fios de água que acabam propiciando enchentes e alagamentos, estragam ruas e desvalorizam imóveis.
 Um pouco antes, corria em cursos naturais, onde a urbanização ainda não afetavam a sua trajetória.
 Mas não passam sem muita intervenção, as cidades crescem desordenadas, nem sempre são pensadas. 
 Áreas de alagado recebem urbanização, casas de periferia. As cidades crescem, as preocupações aumentam.
Onde haviam veias existem poças, surge a coloração do ferro diluído dos solos vermelhos.  
Poucas áreas de alagados resistem à ocupação humana, são loteadas a cada necessidade, são soterradas.
 Restam os fios d'água que correm entre a vegetação restante, tentando sobreviver.
 Já passou por outro loteamento, ou parte do mesmo loteamento, pois todos se unem e se multiplicam em tamanho.
 São veias vivas de um veio maior, de um único que circula os meios naturais e urbanos, de limites em limites.
  Nem sempre vemos de onde vem, sabemos que surgem de algum lugar e que cortam as cidades.
Chegam escondidos da vista humana, passam desapercebidos dos olhos, cortam as paisagens e recebem chuvas, evaporam e formam as chuvas, se renovam no bater nas pedras, se poluem no correr das pedras.
 São veios de água que riscam a paisagem, insignificantes. São veios de água que sustentam a vida, mais nada, só são veios d'água, a única água que passa, que já passou e que passará por aqui.
Como ela irá passar, depende da nossa vontade.   
Nossos córregos desaguam em um ribeirão que abastece a cidade, um pouco abaixo da central de tratamento de esgoto, que deságua um pouco abaixo da estação de captação. ou seja, nasce recebendo resíduos e deságua em contato com resíduos. Felizmente, temos um programa de gestão ambiental que minimiza os males, mas não os elimina. Poderia ser pior.
As águas que passam por nossas cidades capturam os poluentes e os eliminam. Solvente universal, consegue  se recuperar para novo retorno ao ciclo. A quantidade e complexidade das moléculas que recebe é que influenciará na sua recuperação.
Quanto as cidades, é necessário que se repense a urbanização de bairros e a captação de águas pluviais, a captação e tratamento de esgotos residuários, a preservação anterior das áreas de alagado antes da urbanização e sua limitação, quanto a população, repensar o uso de produtos de limpeza, o uso de inseticidas e produtos químicos diversos, a manutenção de vazamentos de graxas e combustíveis em veículos, a disposição do lixo, a preservação da limpeza de ruas e calçadas. Talvez assim, consigamos fazer com que as águas percorram caminhos mais suaves e que se renovem de forma natural.